Postado em 11/04/2018
SELIC EM QUEDA
Recentemente, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil (BC) reduziu pela 12ª vez consecutiva a Taxa Básica de Juros do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), que atingiu o patamar mais baixo da série histórica: 6,5% ao ano. Em tese, tendo os bancos um custo menor para captar recursos, deveria haver mais dinheiro disponível em circulação, abrindo espaço para a redução dos juros cobrados em empréstimos e financiamentos, o que, infelizmente, não encontra eco na prática.
Segundo o consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), o problema desse descolamento entre a teoria e a realidade tem sua principal origem num sistema financeiro estruturalmente ineficaz, onde prevalece a excessiva concentração bancária. “São 5 bancos detêm R$ 4 de cada R$ 5 movimentados no Brasil, concentração essa que diminui a competição entre eles, ocasionando a demora do repasse dos cortes na SELIC aos juros que são praticados junto aos clientes”, explica ele. “Assim, mesmo vivendo num cenário de inflação fraca, com a inadimplência em queda e a sinalização da retomada da economia, ainda convivemos com instrumentos financeiros que cobram juros acima de 300% ao ano, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito”, esclarece o especialista que, também, aponta para um outro impeditivo. “No Brasil, temos compulsórios draconianos que não existem em nenhum outro lugar do planeta, bem como muitas distorções regulatórias, que contribuem para tornar o custo do dinheiro elevadíssimo. Então, simplesmente baixar os juros sem se atacar essas questões, levariam os bancos a se tornarem insolventes”, argumenta.
Por fim, Troster concorda que as taxas de juros atualmente cobradas inviabilizam muitos empreendimentos industriais e tiram a competitividade do país. “Já que o equilíbrio externo é sólido, os bancos estão capitalizados, a inflação está controlada, a perspectiva de a economia crescer mais de 3% este ano, a SELIC está num piso histórico e haver uma demanda alta da sociedade por mudanças, o momento em que vivemos é oportuno para promover as correções necessárias, que dependem apenas do BC e do Tesouro Nacional”, explica ele. “Assim, se essas mudanças forem implementadas, é razoável esperar que o governo arrecade mais, as taxas de juros despenquem, os prazos se alonguem, a inadimplência caia e a indústria passe a ter acesso a financiamentos em condições similares a outros países, podendo produzir e empregar mais”, conclui o economista.