Postado em 26/02/2025
Min. Maílson da Nobrega
O economista e Ex-Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, compartilhou uma visão abrangente sobre a economia brasileira, destacando os fatores que impulsionaram o crescimento recente e os desafios fiscais que o país enfrenta. Ele ressaltou que, apesar das previsões conservadoras dos economistas para 2023 e 2024, o Brasil surpreendeu com um crescimento superior ao esperado, atingindo 3,2% a 3,5% em 2023. Essa expansão econômica foi impulsionada por medidas fiscais significativas, como a PEC da Transição, que injetou cerca de R$200 bilhões na economia, aumentando o consumo e a geração de empregos. Em 2025, o fator relevante foi a nova política de reajuste do salário mínimo, que passou a ser corrigido com base na inflação passada e em um ganho real adicional. Isso resultou em um impacto expressivo na massa salarial e no consumo, embora também tenha elevado os custos para o governo. De acordo com o Ministério do Planejamento, essa política pode representar um aumento de gasto de aproximadamente R$1,3 trilhão em dez anos. Entretanto, Maílson alertou que esse cenário de crescimento impulsionado pelo setor público não é sustentável a longo prazo. Com o esgotamento do impulso fiscal e a necessidade de ajustes nas contas públicas, a tendência é de desaceleração econômica a partir de 2025. A taxa de juros, que pode atingir 15% ao ano, também deve contribuir para a redução do crédito e da atividade econômica. Outro ponto abordado na entrevista foi a recente oscilação do câmbio. A desvalorização do real ocorreu, em parte, devido às incertezas fiscais internas e às expectativas sobre políticas do governo norte-americano, como tarifas comerciais e medidas contra imigração. No entanto, quando algumas dessas ameaças não se concretizaram, os investidores refizeram suas apostas, e o dólar perdeu força frente ao real. Ainda assim, a possibilidade de novas tensões comerciais internacionais e desafios fiscais internos podem gerar novas pressões sobre o câmbio no futuro. Sobre as perspectivas de longo prazo, Maílson da Nóbrega destacou que o Brasil está caminhando para uma grande crise fiscal devido à rigidez orçamentária. Atualmente, 96% dos gastos primários federais são obrigatórios, abrangendo previdência, saúde, educação, folha de pagamento do funcionalismo e outros compromissos constitucionais. Com isso, sobra pouco espaço para investimentos e ajustes necessários na gestão econômica. A projeção é que a relação dívida/PIB continue crescendo, o que pode comprometer a solvência do país e levar a uma crise mais grave. Apesar do cenário desafiador, o economista acredita que crises também podem gerar oportunidades. A história econômica brasileira mostra que momentos de instabilidade frequentemente impulsionam reformas estruturais. Ele citou três momentos decisivos: as reformas do governo Castelo Branco em 1964, que modernizaram o sistema financeiro e tributário; o Plano Real, que estabilizou a economia após anos de inflação elevada; e as reformas do governo Temer, que trouxeram avanços na legislação trabalhista e na gestão das estatais. Maílson fez ainda uma reflexão sobre a necessidade de planejamento e decisões estruturais para evitar um colapso fiscal no futuro. O economista destacou que o Brasil tem potencial para reverter os desafios econômicos por meio de reformas que melhorem a produtividade, atraiam investimentos e garantam maior equilíbrio fiscal. Assista:
Fonte: Min. Maílson da Nobrega no Simpi e os desafios das pequenas empresas